Leonard Pitts: Não há motivos para rir de Britney Spears

Por algum motivo, aquela foto continua em minha cabeça. Aquela em que Britney Spears está atacando um carro com um guarda chuva.

Vamos lá continue rindo se você quiser. Eu não vou te culpar.

Ainda sobre a foto - aquela que esteve em todos os programas de notícias na última semana - me fez parar. Lá está ela, a princesa do pop, com cabeça raspada, vestida sem nenhum glamour com shorts e um casaco, segurando um guarda-chuva, pronta para dar ao carro o que está por vir. Supostamente, o carro pertence a um fotógrafo que estava seguindo ela.

Naquela foto a criança paparicada sumiu. Alguma coisa da garotinha destruída. Algo de um bebê chorando por ajuda.

Como eu disse, eu não vou te culpar se você rir. Culpar você seria hipócrita.

Britney Spears não tem muito tempo em meu monólogo. Eu não escuto suas músicas ou assisto seus vídeos. Para mim ela é simplesmente mais uma famosa por ser bonita e mostrar o corpo e por fazer escândalos mais do que ter alguma qualidade como cantora. Talvez seja certo dizer que o legado de Gladys Knight está longe do que ela possa causar. Barbra Streisand também não sofre comparação.

No grau do que eu acho dela, usualmente estão pessoas que merecem que eu dê risada. As pessoas me perguntam se eu sinto falta de ser um crítico de música pop, sendo que eu passei os primeiros 18 anos da minha vida profissional nisso. Eu digo a eles que eu fico agradecido todos os dias de manhã por não ter que levar Britney Spears a sério. É muito bom para se dar risada.

É isso que Spears era para mim: um saco de pancadas.

E sou o único? Ou não é verdade que entre os dois dias de casamento dela, o beijo em Madonna em TV nacional, sua opção pelo uso de roupas intimas que ela escolheu a um tempo, até para seus fãs, uma pessoa que chama atenção não pelo seu talento mas por não sabermos o que está por vir?

Ela estava um pouco louca. Um pouco fora de controle. Um pouco perdida na forma que fizeram o lixo de sua vida uma sensação.

Talvez eu não seja um ganhador do Prêmio Nobel, mas até aí eu tenho noção de usar roupas intimas quando eu saio de casa.

E você pode dizer isso, falar sobre ela quando ela não está por perto, pois ela não estava lá, em nenhum sentido, real. Spears estava abstrata, uma idéia. Não uma mulher nova e conturbada que entrou e saiu de reabilitação recentemente, uma mulher que provou que a fama e a fortuna se provaram inadequadas para uma pessoa vazia.

A forma abstrata não é surpresa. No que quer que a mídia toca, eles tornam objetivo. Alguns anos atrás, eu recebi um e-mail ultrajante de um leitor que, da forma que ele disse, me chamou de tudo menos de filho de Deus. Eu respondi e nós acabamos tendo uma conversa civilizada. Eu me lembro que ele se sentiu embaraçado, como se ele não tinha percebido que eu iria ler a sua reivindicação. Ele tinha uma idéia sobre mim.

Mas eu não sou uma idéia.

Se isso pode ser esquecido por uma pessoa que é famosa por escrever em jornais, o quanto isso pode ser mais fácil de ser esquecido por quem realmente vive nas luzes da fama? O quanto isso pode ser como ter um casamento e divórcio, seu relacionamento com pais e filhos, tudo isso desejado pro milhões de estranhos que pensam que sabem quem é você? Nenhum dinheiro faz isso ok? Fazer fama e luxúria?

Eu não acho. A vida não é um show. Mas só nós sempre soubéssemos disso, nós iríamos esquecer quando corremos para um dia de 'realidades' na televisões, tablóides jornalísticos e celebridades famosas-por-nada. Não há nenhuma reverência, nenhuma privacidade, nada que possa se tornar sagrado. Nós fazemos ooh e ahh e rimos da desgraça de outras vidas, e esquecemos que por mais que a pessoa seja famosa ela continua sendo uma pessoa e não uma idéia.

Britney Jean Spears não é uma idéia. Ela é uma mãe de 25 anos com dois filhos que está passando por problemas. Em público.

Vamos lá e continue rindo disso se você quiser.


Créditos: The Salt Lake Tribune